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sexta-feira, outubro 24, 2014

A Minha Experiência em Inharrime - Julho/Agosto de 2014

Volvidos dois meses após ter saído de Inharrime como voluntária, de ter deixado sedimentar, no meu ânimo, ideias e experiências para melhor surgirem com clareza, é hora de dar o meu testemunho:

Eu tive um sonho!
Há alguns anos que vinha acalentando, bem enraizado no fundo da minha Alma, o desejo de um dia ser voluntária em África, poder dar de mim algum contributo junto dos mais pobres dos pobres do Mundo.
Senti esse apelo como um "percurso espiritual" que urgia realizar.

Já não sou jovem, mas consegui concretizar esse sonho, depois de ter pedido a Reforma Antecipada.
Estive mês e meio em Inharrime dando apoio escolar a várias meninas internas. Mas a todas em geral eu dei mimos, abraços e muitas conversas. Não consegui cumprir, por vários factores, o prazo de 3 meses a que me tinha proposto, de cujo procedimento me sinto triste e me arrependo todos os dias.
Tenho saudades das suas traquinices, do barulho das suas vozes, dos seus carinhos e, quando cheguei a casa, envolveu-me um silêncio sepulcral e chorei por elas e por mim - por não ter conseguido perseverar até ao fim.

África é realmente uma Terra de magia, que nos envolve, mas não importa aqui falar tanto dessa experiência, pois não foi o que lá me levou (em qualquer altura posso viajar e conhecer novos mundos e diferentes culturas).
Não obstante, sinto a nostalgia de contemplar aquele céu estrelado percorrido pela Via Láctea (que é único), os cheiros da terra vermelha, as paisagens a perder de vista de coqueiros e cajueiros, as palhotas ao longo das estradas, o mar infindo e, em suma, a afabilidade daquele povo.

O Centro Laura Vicuña em Inharrime é, de facto, "uma obra meritória e grandiosa" em prol dos mais necessitados e reconheço o esforço, boa-vontade e dedicação das Irmãs Salesianas Filhas de Maria Auxiliadora (bem como de todos os Missionários) que, através dos tempos, com coragem, persistência, amor e alegria, sempre de acordo com os preceitos cristãos, entregam as suas vidas à tarefa de elevar o nível educacional, moral e também material dos mais desfavorecidos.
O Centro está tão bem organizado e estruturado, de maneira que muitas vezes dou comigo a pensar que, este, seria um bom "modelo" a ser exportado para Portugal...
As Irmãs são muito hospitaleiras, alegres e dedicam-se às meninas com grande carinho e atenção, não descurando nenhum dos aspectos necessários ao seu bem-estar (das meninas).

Das meninas gostei muito, são amorosas e afáveis. Vindas de famílias pobres e órfãs, têm, mesmo assim, uma alegria contagiante e é fácil amá-las. Aqui, sentem-se felizes, as regras são muito flexíveis (dentro dos limites necessários); estudam, rezam, brincam muito e aprendem as tarefas próprias a tornarem-se, no futuro, pessoas úteis e de bem. Às 6,30h da manhã, há logo alegria, pois elas já estão a tomar o pequeno-almoço ao ar livre, para entrarem na Escola às 7h.
Oh, como tenho saudades delas! Senti-me amada, com um amor puro de coração, por aquelas meninas, a quem ouvia constantemente chamar "mana Helena", e me afagavam e acarinhavam. Se eu lhes dei carinho e atenção, sinto-me grata, porquanto elas me retribuíram em dobro.

Foi uma experiência única que abriu uma via radicalmente nova na minha vida, que cavou nas profundezas do meu ser um novo olhar sobre o mundo e sobre a Humanidade.
Por isso, se bem que a minha dádiva ficasse um pouco aquém, como já referi, daquilo a que me tinha proposto, valeu contudo a pena, na certeza de que há sempre algo de positivo a retirar, que nos enriquece e sublima.

Se dermos um pouco de nós ou do que temos com boa vontade, da melhor maneira que podemos e sabemos, com amor desinteressado, com espírito altruísta, seguramente o Mundo será melhor e todos seremos mais felizes!


Helena






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